Resenha de filme: “A Mulher Vespa” (1960), produzido e dirigido por Roger Corman


Uma rainha da beleza de dia, uma vespa rainha voraz à noite!

O produtor e diretor americano Roger Corman é um profissional que tem seu nome eternamente gravado dentro do gênero fantástico por causa de seus inúmeros filmes de baixo orçamento, principalmente aqueles realizados entre os meados da década de 1950 até o final dos anos 60. Sua maior especialidade é a de fazer filmes com agendas apertadas, correndo contra o tempo com o mínimo de recursos disponíveis, aproveitando e reciclando cenários, demonstrando uma habilidade e talento incomum que lhe garantiu o título de “Rei dos Filmes B”, tendo sua obra cultuada por uma legião de fãs de filmes bagaceiros. Ele também é conhecido por oferecer a oportunidade do lançamento das carreiras de personalidades que se consagraram como os diretores Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Peter Bogdanovich, e os atores Jack Nicholson, Robert DeNiro e Ellen Burstyn.
Entre as muitas divertidas tranqueiras de sua filmografia como cineasta está o inusitado “A Mulher Vespa” (The Wasp Woman, 1960), cuja simples menção do nome já desperta inevitavelmente aquela curiosidade para os apreciadores de filmes exóticos e com roteiros absurdos, onde não falta o cientista louco, a mulher que ambiciona a juventude eterna e um monstro mutante assassino.

Também produzido por Corman, com fotografia em preto e branco e duração curta de aproximadamente 71 minutos, o bizarro roteiro de Leo Gordon a partir de uma história de Kinta Zertuche mostra uma poderosa proprietária de uma empresa de cosméticos, Janice Starlin (Susan Cabot), que está preocupada com a crescente queda de vendas de seus produtos. Temendo perder todo o patrimônio que conquistou ao logo dos anos de muito trabalho, ela foi convencida pelos executivos da empresa que sua imagem distante da juventude pode ser um dos motivos do desinteresse do público.
Em paralelo, um cientista que faz pesquisas com enzimas de vespas e que vem obtendo bons resultados de rejuvenescimento em experiências com insetos e animais, Dr. Eric Zinthrop (Michael Mark), é demitido por seus patrocinadores e apresenta seu trabalho para a Srta. Starlin, que uma vez à procura de manter sua juventude, aceita servir de cobaia humana para as experiências do cientista, deixando preocupados seus amigos e companheiros de trabalho como a secretária Mary Dennison (Barboura Morris) e o namorado dela Bill Lane (Anthony Eisley, creditado como Fred Eisley), além do cientista Arthur Cooper (William Roerick).
Uma vez animada com a possibilidade de resultados bem sucedidos, a mulher tenta secretamente acelerar o processo injetando em si mesma uma quantidade exagerada da solução química, ocasionando com isso uma terrível mutação, transformando-se num monstro grotesco e incontrolável, que passa a atacar as pessoas que atravessam seu caminho, procurando se alimentar do sangue de suas vítimas.

Com um roteiro desses, é óbvio que devemos assistir o filme de forma totalmente descontraída, esperando ver uma tranqueira em todos os sentidos, desde os absurdos da história até a falta de recursos de uma produção de baixo orçamento, que obrigou seus realizadores a trabalhar com efeitos bizarros na concepção da criatura mista de mulher e vespa, uma maquiagem tão tosca que se na época (há quase meio século atrás) poderia causar medo, espanto e repulsa nos espectadores, manipulando suas emoções perante um filme de horror, nos dias atuais da modernidade do século 21, causaria acessos de risos no público. Esse é mais um dos motivos que comprova que devemos ver o filme sem exigência e procurando apenas se divertir com a precariedade da produção, respeitando os esforços dos envolvidos no projeto, principalmente o cultuado diretor e produtor Roger Corman. Tanto que a “mulher vespa” aparece pela primeira vez na tela somente com 50 minutos de filme, ou seja, bem próximo do fim da projeção, e com participações rápidas no ataque às suas vítimas. E, apesar do desfecho previsível e das poucas mortes, “A Mulher Vespa” é um “trash” que garante a diversão.

Seguem algumas curiosidades que merecem registro:
* o próprio Roger Corman (ainda bem jovem) aparece numa ponta super rápida não creditada como um médico no hospital. Aliás, ele costuma usar esse expediente em vários de seus filmes, participando de forma discreta, assim como em filmes de outros amigos também como aconteceu em “Trilogia do Terror” (Body Bags, 1993), de John Carpenter e Tobe Hooper, onde Corman também interpretou um médico no episódio “Olho”.
* “A Mulher Vespa” recebeu outros nomes alternativos originais como “Insect Woman” e “The Bee Girl”.
* Ao contrário do que aparece no cartaz promocional e sensacionalista que traz uma interessante ilustração com uma vespa gigante com rosto de mulher atacando um homem, no filme o monstro é uma mulher de tamanho natural com a cabeça e patas de vespa, algo bem mais fácil para ser reproduzido pela equipe de produção e de custo reduzido. Algo similar aconteceu com “A Mosca da Cabeça Branca” (The Fly, 1958), que mostrou um cientista que sofreu um acidente em sua experiência de teletransporte e transformou-se num monstro com a cabeça e uma das patas de mosca.
* Em 1995 foi produzida uma refilmagem diretamente para a televisão, com direção de Jim Wynorski, produção executiva de Roger Corman e com Jennifer Rubin e Doug Wert no elenco.
* Para a satisfação dos colecionadores de filmes de horror, “A Mulher Vespa” foi lançado no Brasil em DVD pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, numa coleção chamada “Sessão da Meia-Noite”, que inclui outras tranqueiras divertidíssimas da mesma época. Filmes que eram exibidos com freqüência nos drive-in´s americanos. O mesmo DVD de “A Mulher Vespa” traz também “O Ataque das Sanguessugas Gigantes” (Attack of the Giant Leeches, 1959), de Bernard L. Kowalski e com Ken Clark e Yvette Vickers, e apresenta como materiais extras os respectivos trailers legendados em português.