Mais que castelos de areia
É muito curiosa a proximidade entre os quadrinhos e a arquitetura. Ambos têm no desenho sua forma de expressão; nos quadrinhos, representando as seqüências e rupturas espaciais; na arquitetura, a virtualidade da representação espacial. Contudo, muito acima desses fatores meramente técnicos, o que leva o arquiteto ao encontro do quadrinhista é a possibilidade de criação ilimitada de mundos, universos, contextos sociais, personalidades e personagens que atuarão nesse espaço irreal.
O lado mais interessante desses dois artistas do traço é o exercício de seu espírito lúdico. Como não associar os quadrinhos aos jogos infantis, com suas representações imaginárias de mocinhos e bandidos, esconderijos, casas de bonecas, castelos encantados e mundos de assombração? O arquiteto não estaria fazendo o mesmo ao projetar cidades, condomínios, fábricas e residências que imaginar labirintos e minotauros, jogos de armar e de tabuleiros?
Se por um lado o arquiteto tem um objetivo claro, que deve responder à funcionalidade de sua criação, é justamente nos quadrinhos onde ele pode exercer todo seu potencial imaginativo. Seja na idealização de civilizações perdidas, seja na ambientação de espaços urbanos atuais, seja na invenção pura e simples de outros mundos, algo como uma ciência da antecipação.
Poder-se-ia dizer que esse caráter criativo, ou prospectivo, ou voltado à crônica do quotidiano, ou premonitório, não é um privilégio do quadrinhista nem do arquiteto, mas que outras artes podem igualmente utilizar o mesmo campo de criação, a exemplo do teatro, e particularmente do cinema. No entanto, é nos quadrinhos onde os limites são inexistentes, nem físicos nem orçamentários, bastando para o artista a utilização de materiais rudimentares. De seu papel e lápis podem surgir palácios, máquinas fabulosas, planetas e civilizações distantes, as mais exuberantes construções, as invenções mais fantásticas.
Ainda que o arquiteto possa projetar tudo isso, sua arte não se realiza se não for executada, se não ganhar vida concreta pela ocupação de seus destinatários. O mundo imaginário do quadrinhista só pede a cumplicidade do leitor, pois a arte do criador tem no desenho o seu fim.
É esta realização sem condicionantes, sem contingentes, sem fronteiras físicas e espaciais que certamente seduz o arquiteto, não sendo raros os casos de arquitetos que se tornam quadrinhistas. Imaginamos que mais que esse objetivo prático de realização por meio das imagens desenhadas está o resgate da liberdade infantil, assim como a possibilidade do fazer poético, num mundo cada vez mais instrumental.
Edgar Franco, arquiteto, quadrinhista, deve enxergar os quadrinhos como o espaço dessas possibilidades infinitas por meio de seu universo mítico, poético, surreal e filosófico. Com o livro História em quadrinhos e arquitetura Edgar nos mostra com maestria de sua formação acadêmica e sua paixão pela arte o quanto a interseção dessas duas expressões pode ser fecunda.
Num panorama que vai dos primórdios da linguagem ilustrada e seqüencial aos quadrinhos contemporâneos, ele traça com inúmeros exemplos as diversas expressões de quadrinhistas que buscaram na arquitetura o elemento fundamental para a realização de suas narrativas. Assim como nos aponta os arquitetos que ultrapassaram a fronteira do racionalismo para se fazer concretos no mundo dos sonhos. – “Henrique Magalhães”
História em quadrinhos e arquitetura
Edgar Franco
Coleção Quiosque, nº 4
João Pessoa: Marca de Fantasia. 2004. 84p. 12x18cm.
www.marcadefantasia.com.br - contato@marcadefantasia.com.br
É muito curiosa a proximidade entre os quadrinhos e a arquitetura. Ambos têm no desenho sua forma de expressão; nos quadrinhos, representando as seqüências e rupturas espaciais; na arquitetura, a virtualidade da representação espacial. Contudo, muito acima desses fatores meramente técnicos, o que leva o arquiteto ao encontro do quadrinhista é a possibilidade de criação ilimitada de mundos, universos, contextos sociais, personalidades e personagens que atuarão nesse espaço irreal.
O lado mais interessante desses dois artistas do traço é o exercício de seu espírito lúdico. Como não associar os quadrinhos aos jogos infantis, com suas representações imaginárias de mocinhos e bandidos, esconderijos, casas de bonecas, castelos encantados e mundos de assombração? O arquiteto não estaria fazendo o mesmo ao projetar cidades, condomínios, fábricas e residências que imaginar labirintos e minotauros, jogos de armar e de tabuleiros?
Se por um lado o arquiteto tem um objetivo claro, que deve responder à funcionalidade de sua criação, é justamente nos quadrinhos onde ele pode exercer todo seu potencial imaginativo. Seja na idealização de civilizações perdidas, seja na ambientação de espaços urbanos atuais, seja na invenção pura e simples de outros mundos, algo como uma ciência da antecipação.
Poder-se-ia dizer que esse caráter criativo, ou prospectivo, ou voltado à crônica do quotidiano, ou premonitório, não é um privilégio do quadrinhista nem do arquiteto, mas que outras artes podem igualmente utilizar o mesmo campo de criação, a exemplo do teatro, e particularmente do cinema. No entanto, é nos quadrinhos onde os limites são inexistentes, nem físicos nem orçamentários, bastando para o artista a utilização de materiais rudimentares. De seu papel e lápis podem surgir palácios, máquinas fabulosas, planetas e civilizações distantes, as mais exuberantes construções, as invenções mais fantásticas.
Ainda que o arquiteto possa projetar tudo isso, sua arte não se realiza se não for executada, se não ganhar vida concreta pela ocupação de seus destinatários. O mundo imaginário do quadrinhista só pede a cumplicidade do leitor, pois a arte do criador tem no desenho o seu fim.
É esta realização sem condicionantes, sem contingentes, sem fronteiras físicas e espaciais que certamente seduz o arquiteto, não sendo raros os casos de arquitetos que se tornam quadrinhistas. Imaginamos que mais que esse objetivo prático de realização por meio das imagens desenhadas está o resgate da liberdade infantil, assim como a possibilidade do fazer poético, num mundo cada vez mais instrumental.
Edgar Franco, arquiteto, quadrinhista, deve enxergar os quadrinhos como o espaço dessas possibilidades infinitas por meio de seu universo mítico, poético, surreal e filosófico. Com o livro História em quadrinhos e arquitetura Edgar nos mostra com maestria de sua formação acadêmica e sua paixão pela arte o quanto a interseção dessas duas expressões pode ser fecunda.
Num panorama que vai dos primórdios da linguagem ilustrada e seqüencial aos quadrinhos contemporâneos, ele traça com inúmeros exemplos as diversas expressões de quadrinhistas que buscaram na arquitetura o elemento fundamental para a realização de suas narrativas. Assim como nos aponta os arquitetos que ultrapassaram a fronteira do racionalismo para se fazer concretos no mundo dos sonhos. – “Henrique Magalhães”
História em quadrinhos e arquitetura
Edgar Franco
Coleção Quiosque, nº 4
João Pessoa: Marca de Fantasia. 2004. 84p. 12x18cm.
www.marcadefantasia.com.br - contato@marcadefantasia.com.br