“Dia dos Mortos” (Day of the Dead, 2008) é mais um filme descartável na mitologia dos zumbis


George Romero é um cineasta consagrado, principalmente por seus filmes de zumbis. Ele dirigiu “A Noite dos Mortos-Vivos” (Night of the Living Dead, 1968), “Despertar dos Mortos” (Dawn of the Dead, 1978), “Dia dos Mortos” (Day of the Dead, 1985), e “Terra dos Mortos” (Land of the Dead, 2005), todos com roteiros carregados de ultra violência e interessantes críticas sociais. Seus filmes inspiraram novas versões, algumas boas e outras péssimas.
Em 1990, o primeiro filme de Romero serviu de base para uma refilmagem de Tom Savini, que honrou a saga. Em 2004, foi a vez do segundo filme inspirar a produção de “Madrugada dos Mortos” (Dawn of the Dead), de Zack Snyder, que trouxe a novidade em tornar os zumbis velocistas e mais predadores e ferozes que de costume (esse filme não foi uma unanimidade positiva entre os fãs, mas eu pessoalmente gostei). Em 2005, os oportunistas e incompetentes Ana Clavell e James Glenn Dudelson dirigiram uma bomba chamada “Dia dos Mortos 2: O Contágio” (Day of the Dead 2: Contagium), uma tranqueira que usou o título do filme de Romero, mas que não é uma continuação. E em 2008 chegou a vez da refilmagem “Dia dos Mortos” (Day of the Dead), de Steve Miner, uma produção da “Nu Image”, conhecida pelos péssimos filmes de seu catálogo.
O fato de ter a direção de um cineasta habituado ao horror como Steve Miner (“Sexta-Feira 13” partes 2 e 3, “A Casa do Espanto”, “Warlock – O Demônio”, “Halloween H-20”, “Pânico no Lago”) não trouxe credibilidade ao projeto, pois o filme é um lixo dispensável que não acrescenta nada à mitologia dos zumbis nem aos filmes de George Romero. A melhor palavra que o define é “clichê”, com um elenco amador, e um roteiro assinado por Jeffrey Reddick que é uma ofensa à inteligência do público, com piadas idiotas e personagens fúteis e descartáveis. Tem muito sangue, violência, corpos putrefatos, gosmas escorrendo para todos os lados. Porém, isso é absolutamente inexpressivo sem uma história com um mínimo de interesse. Fazer filmes violentos e repletos de mortos vivos devoradores de carne humana já é algo comum demais. A violência no cinema está se tornando banal, sendo necessário criar e oferecer algo adicional, mesmo que pequeno. Mas, definitivamente, o que menos o cinema americano tem para oferecer é criatividade. Como dinheiro fácil é o mais importante no pensamento dos produtores mercenários, a idéia é apostar em refilmagens descartáveis (outro exemplo é a onda de lançamentos de filmes americanos baseados nas boas produções orientais, a maioria com fantasmas perturbados).
Filmado na Bulgária, e com uma equipe imensa de produtores (característica da “Nu Image”), entre eles os picaretas Boaz Davidson, Avi Lerner e o já citado James Glenn Dudelson, a versão de 2008 de “Dia dos Mortos” é tão ruim que não merece mais do que poucas linhas para contar a história medíocre: uma dupla de soldados, Sarah Bowman (Mena Suvari), e o idiota Salazar (Nick Cannon, autor de piadas constrangedoras obrigando-nos a torcer por sua morte o mais dolorosa possível), se juntam a um casal de jovens fúteis, Trevor (Michael Welch), irmão de Sarah, e sua namorada Nina (AnnaLynne McCord), que demonstraram uma improvável habilidade com armas de fogo. O grupo tenta sobreviver a um ataque de mortos-vivos super ágeis (aqui a idéia tradicional de zumbis lentos também foi abandonada), infectados por uma doença desconhecida.
Existe a tentativa sem sucesso de apresentar alguns dos mesmos personagens do filme original de 1985, como Sarah, Salazar, o cientista Dr. Logan (papel agora de Matt Rippy), Capitão Rhodes (Ving Rhames, em péssima atuação), e até o zumbi Bub, que se transformou numa espécie de mascote desse sub-gênero do horror, mas que foi totalmente ridicularizado na refilmagem, interpretado por Stark Sands, um soldado mordido por um infectado. De uma maneira geral, o novo “Dia dos Mortos” tem pouquíssimas relações com o filme original de 1985, apresentando uma história excessivamente diferente e sem interesse, abusando da liberdade de criação artística (e nesse caso, de “destruição artística”, com uma história ridícula). Exagerando nos clichês, na gritaria e correrias desenfreadas, nos tiroteios ensurdecedores, convidando o espectador ao sono. Não consegue prestar nenhuma homenagem, não acrescenta nada e ainda desonra o universo ficcional dos mortos-vivos de George Romero. Já encheu o saco assistir filmes com infectados podres perseguindo os vivos, com exceção notável dos dois ótimos filmes da franquia “Extermínio”, da dupla de ingleses Danny Boyle e Alex Garland.

Obs.: Como o assunto desse texto também é o diretor George Romero, o “pai dos mortos-vivos”, vale registrar que em 2007 ele lançou um quinto filme dentro do sub-gênero em que é especialista. Trata-se de “Diary of the Dead”, utilizando a moda de histórias filmadas com câmeras de mão em primeira pessoa. E existe o projeto de uma seqüência em 2009.