Veja o depoimento de Marcelo Milici, webmaster do site “Boca do Inferno.Com”, sobre a pré-estréia de “Encarnação do Demônio”



Acabei de voltar de uma experiência cinematográfica única: pré-Estréia do filme "Encarnação do Demônio", que estréia em algumas cidades brasileiras no dia 8 de agosto.
A primeira coisa que eu disse quando terminou o filme, para o editor da Revista Mad, Raphael Fernandes, e para o colunista do Jornal da Tarde, Felipe (ambos reconheceram o site e falaram muito bem): "Foda pra caralho!".
"Encarnação do Demônio" é fantástico! Cinema de horror de verdade, uma lição de violência gráfica e ousadia para as produções atuais (como as populares "O Albergue" e "Jogos Mortais", por exemplo). Ao término do filme, eu pensei: "Tudo isso foi aprovado? E a censura?". 18 anos, com certeza...
Cheio de citações aos filmes anteriores e aos trabalhos de Mojica ("É o delírio de um anormal.."), "Encarnação" traz o personagem de Zé do Caixão, saindo da prisão, após 40 anos de reclusão. Amargurado, pessimista e ainda cético, ele anda pela cidade de São Paulo, incrédulo com a quantidade de carros, poluição e, claro, drogas envolvendo crianças - seu ponto fraco. Arruma abrigo numa favela, onde seu fiel escravo, Bruno, já havia escalado um grupo de seguidores. Mas, para ser fiel ao Zé tem que passar por um teste. Todas engatilham uma arma e apontam para a cabeça, enquanto o Mestre grita: "Quero ver os miolos de vocês no chão!".
A partir daí, ele se revolta com a violência contra crianças realizado por policiais (quero ver a reação da polícia a tudo isso) e continua sua missão de perpetuar a espécie, encontrar a mulher perfeita para gerar o filho perfeito, tendo que enfrentar, além da revolta da polícia, a vingança de um padre, e, principalmente, a volta dos mortos - os fantasmas de suas vítimas.
Tortura lenta, dolorida (não aquela aceleração de imagens de "Jogos Mortais") e real (passo mal quando vejo pessoas presas a ganchos...), sadismo absoluto, necrofilia, castração (que dá de 10 a zero em "O Albergue" e cópias), uma chuva de sangue impressionante, além dos insetos reais (nada digital). Alguém mais odeia baratas?
Enquanto no filme "Esta Noite..." vemos no DVD um inferno colorido, em "Encarnação" temos os personagens dos filmes anteriores aparecendo em preto-e-branco - sempre gostei desse trabalho com tonalidades do Mojica.
A explicação para o fim absurdo de "Esta Noite..." também é coerente a trajetória do personagem, principalmente para a solução encontrada.
Aliás, apesar do Zé estar menos risonho, não ter mais o elevar de sua sobrancelha, as características principais estão lá. Sua ironia, seus pesadelos, sua descrença...(ora, foram 40 anos de hibernação...)
Ao término do filme, pudemos acompanhar uma coletiva de imprensa com o Mojica, Paulo Sacramento (o produtor e montador), o ator Milhem Cortaz e os demais produtores e realizadores. Muito divertido. O Zé contou toda a trajetória da produção, as dificuldades que enfrentou e a sua descrença na realização do projeto (não é só o seu personagem que não acredita...). Do apoio que recebeu, dos incentivos, dos fãs que o incentivaram a continuar lutando...
Uma continuação? Se alcançar o sucesso que esperamos (o filme custou 1 milhão e oitocentos), teremos não apenas mais filmes de terror do Mojica, como também uma nova fase de horror do cinema brasileiro, com produções sendo lançadas no mercado, a todo momento.
E o Zé já anunciou o próximo: "Devorador de Olhos", filme que já reservarei o ingresso desde já...

(Texto de Marcelo Milici, 28/07/08)