Matéria do jornal HOJE EM DIA, 30/01/2005

Jornal HOJE EM DIA – Caderno Minas – Belo Horizonte – Domingo 30/01/2005

Por Viviane Moreno

CRESCE A PAIXÃO DOS JOVENS PELO CINEMA

Internet inspira ao exercício crítico


(...) São muitos os blogs e sites relacionados ao assunto. O site www.bocadoinferno.com é um deles e se mantém com ajuda de colaboradores.
Criado há quatro anos pelo professor e músico paulista Marcelo Milici, 28 anos, o Boca do Inferno é especializado em terror/suspense e ficção científica em todas as suas manifestações. Milici também criou uma lista de discussão e um grupo no Orkut (site de relacionamento virtual com quase quatro milhões de usuários em todo o mundo).
Para manter o site atualizado, Milici coleta informações diárias sobre as produções em andamento, costuma frequentar as cabines de imprensa, colecionar DVDs do gênero e assistir cada filme várias vezes, antes de escrever uma resenha. Ele conta que assiste a filmes de terror desde criança (inclusive se aventurou a realizar alguns filmes do gênero na infância) e que esse gênero o fascina por tratar do desconhecido, do sobrenatural, do medo, do incomum. "Mas também sou cinéfilo assumido, e não deixo de conferir a outros gêneros, como ação, comédia e drama, desde que bem narrados, com bom elenco e indicações." Milici se diz decepcionado com certos jovens. "Costumo ir aos cinemas no mínimo uma vez por semana, o que me torna grande fã da telona e do calor do público e sua manifestação diante das cenas. Mas tenho me decepcionado em demasia com os novos jovens que frequentam as salas grandes. Antigamente, o cinema era um lugar de respeito, onde as pessoas cultas ou que buscam lazer levavam amigos e namorada para ter contato com outras épocas, países e culturas. Infelizmente, com a censura branda e a falta de fiscalização adequada, o jovem descobriu no cinema um espaço para bagunçar, arrumar encrenca, chamar a atenção, enfim, tudo menos ver o filme.", acrescentando que chega a sentir saudades do "lanterninha", que não deixava conversar, bagunçar ou mesmo namorar. Apesar disso, Milici diz que o público não tem do que reclamar nos últimos tempos. "Há produções de vários gêneros, com atores consagrados na telinha, divulgação em todas as mídias e histórias cada vez mais interessantes."
Ele sabe das dificuldades para se fazer um filme de qualidade hoje em dia, devido ao pouco incentivo e interesse de patrocínio. "Mas acredito que, com o passar dos anos, o prestígio de, quem sabe, ganhar um Oscar, o Cinema no Brasil tende a ganhar grandes estúdios, gerar produções de qualidade e quantidade. È um processo lento, mas vai ocorrer, com certeza."
Marcelo Milici diz que fica chateado por saber que um cineasta como Zé do Caixão consegue adquirir reconhecimento em outros países, enquanto é motivo de piada em seu próprio país. "Se ele estivesse nos EUA, na França ou Espanha, teria o nome em grandes produções, concorrentes de grandes prêmios."


Exibição é problema do cineasta amador


"È tão fácil fazer cinema amador que acredito que as pessoas só não fazem porque não querem. Elas têm aquela idéia de que é preciso milhares de reais para fazer filmes, mas você pode trabalhar muito bem com o improviso e economia.", diz o jornalista gaúcho Felipe do Monte Guerra, 25 anos, que criou a Necrófilos Produções Artísticas.
Ele conta que o curta-metragem que fez no programa Caldeirão do Hulk custou cerca de R$100, e que seu longa-metragem "Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado" (2001) custou apenas R$250, e chegou a ser exibido nos cinemas e sua cidade e aparecer no Fantástico. "Ou seja: se pagou umas 100 vezes, só em divulgação.", calcula.
A maior dificuldade é a exibição. "Vendo ou distribuo as fitas para todo o Brasil, mas não tenho uma forma de levar meus filmes pelo país, fazer com que cinemas de outras cidades ou então um canal de TV exibam minhas produções. Esse é o maior problema, porque quem faz filmes quer que o filme seja visto..."
Felipe Guerra conta que resolveu deixar de ser um simples espectador para fazer seu próprio filme quando percebeu que algumas boas idéias eram desperdiçadas em filmes ruins. "Acho que é natural: todo mundo que adora cinema e gosta de escrever sobre cinema sonha fazer cinema.", analisa, acrescentando que quer se profissionalizar num futuro não muito distante.
Ainda este ano ele lança "Canibais & Solidão", uma comédia romântica sobre canibalismo. Também tem roteiros prontos para uma fita de faroeste e uma de zumbis.
O cineasta conta que passou a escrever roteiros, em princípio como brincadeira, sonhando um dia mandar para um estúdio ou Hollywood. "Sonhos de criança...", ressalta. Depois resolveu transformá-los em realidade. "Com a ajuda de um amigo que tinha câmera (no começo dos anos 90 ninguém tinha cãmera), começamos a fazer curtas, de brincadeira, de improviso. Depois passei para produções mais elaboradas. Comprei minha própria câmera, que é amadora, e convidei amigos para atuar. Eles não recebem nem um tostão como salário, trabalham por amor à arte, sujando-se de sangue, de tripas reais de animais e andando seminus...Isso é cinema amador! Eu mesmo crio os efeitos especiais e faço a edição, sem computador, usando dois videocassetes – o tipo mais difícil de edição, mas também o mais barato e à mão"
Felipe Guerra também escreve críticas por um motivo simples: "existem milhares de filmes sobre os quais as pessoas nunca ouviram falar, o que é uma pena, porque mereciam ser descobertos."
Felipe do Monte Guerra começou a se interessar por cinema ainda criança, "naquela época áurea dos cinemas grandes e particulares, longe dos shoppings e multiplexes de hoje em dia." Ele gosta de tudo: "tanto dos filmes bons quanto os ruins ou de qualidade duvidosa. Atualmente, procuro fascinado por filmes bizarros, como o mexicano ‘A Múmia Asteca Contra o Robô Humano’ ou o norte-americano ‘Papai-Noel contra os Marcianos’.