A Fúria e a Mágoa
Autor: Carmelo Ribeiro – Formato:
14x21cm – Capa: 4X0 cor, com orelhas de 7 cm – Miolo: 1X1 cor – Acabamento e
encadernação: costurado, hotmelt – Páginas: 144 – ISBN: 978-85-8068-071-3 – Público-alvo:
Geral – Faixa etária: 12+
Sobre a obra: Já faz algum tempo que os poetas costumam fazer
poesia do mínimo, das sutilezas, do quase nada. Tal obsessão já deu origem a
livros e poemas notáveis, nada contra ela, mas os poemas do livro que o leitor
tem agora em mãos são filhos do excesso, da fúria e da mágoa, como sintetiza o
título. Escritos durante a adolescência do autor, esses poemas exigem uma cumplicidade
absoluta, uma parceria irrestrita de quem lê. É preciso então imergir nesse
mundo assombroso, grandiloqüente e verborrágico de maneira completa ou ficar de
fora ou fugir dele o quanto antes, mas posso garantir que aqueles que aceitarem
o convite não sairão indiferentes.
Trecho da obra
Da fúria
Queimei teu filho no berço
Esmaguei teus seios com mãos de
tenazes
Vazei teus olhos como quem
estoura frutos pequenos
Espalhei urtiga pela tua pele
branca
Pelo rosado do teu sexo
Rasguei tuas gengivas com gilete
E depilei a película fina que
envolve teus lábios
Depois me matei de remorsos
Prosaicamente
Cortando apenas os pulsos.
Da mágoa
Faltou-me pouco
Para que eu deixasse tudo
E fosse te buscar
Faltou um passo
Faltou...
Sempre falta
Chego sempre atrasado
A um passo do pássaro da
felicidade
Sou assim mesmo
Um canto partido
Um cântaro quebrado
Faltou-me quase nada
Foi por um triz
Um segundo
Uma polegada
E fico assim
Refém de tudo aquilo que me
escapa.
Paxolino dos adoradores de Cristo nas terras
da cafraria
Na
época em que os navegadores portugueses conquistaram boa parte do mundo,
desembarcaram na costa da terra, depois chamada Brasil, e se depararam com um
universo para eles incompreensível. Entre esses navegadores estava o capitão
Matias Souto Maior, único entre seus iguais, que ao deparar-se com prodígios
incomuns, mesmo para aquelas terras selvagens, resolveu seguir adiante,
acompanhado por uma tribo de índios brutos, assustados com a aparição de um
menino de pele escura, pássaros de luz, monstruosidades gentis e um bêbado, que
pareciam oriundos de outros tempos.
Os
bugres acreditavam que aqueles homens barbudos e fedidos talvez pudessem
salvá-los da calamidade que se abatia sobre a terra e o capitão Matias e os
seus marujos acreditavam que estes poderiam guiá-los para o país dos pássaros
de luz que excretavam ouro.
Partiram,
então, com o fito de por termo ao desconcerto do mundo, mas acabaram por se
perderem em um espaço feérico em que todos os tempos e todos os lugares se
confundiam para desespero do jesuíta que os acompanhava, o padre Jerônimo
Cadena, que a um minuto da loucura passou a acreditar que tudo aquilo, todo aquele
mundo em desmazelo não passava de uma armadilha do demônio, o macaco de Deus, a
confundir os homens naquelas terras da cafraria.
Porém,
nenhum deles estava certo, pois a certeza não tinha lugar naquelas terras e a
normalidade havia sido banida do mundo, pois o bizarro era a ração de cada dia
naquele estranho universo, cujas leis extravagantes confundiam as mentes e a
memória de todos aqueles envolvidos na estranha peregrinação rumo ao
inexplicável.
Sobre o autor:
Carmelo
Ribeiro é professor graduado em História e Mestre em Geografia. Publicou
contos nas antologias “Moedas para o Barqueiro”, “Bandeira Negra” e “Espectra”.
Contatos: carmelorbf@yahoo.com.br