Divulgação de filme independente: “O Anjo de Pedra” (2008), de Marcos T. R. Almeida

O Anjo de Pedra” (2008), filme independente, “Corvo Produções”, direção e roteiro de Marcos T. R. Almeida e Alexandre Ribeiro, baseado no conto homônimo de Marcos T. R. Almeida (reproduzido abaixo), publicado no fanzine “Juvenatrix” e no site “Boca do Inferno.Com”. Elenco: Vlad Vlassary, Wendy Jeniffer, Adriana Dark Lilith, Denise Vargas, Débora Segalla, Marcos T. R. Almeida. Duração: 60 minutos. Materiais extras no DVD: entrevista com José Mojica Marins em 2007. Sinopse: Um jovem amargurado de perfil byroniano, encontra refúgio e conforto num lugar repleto de artes, porém em seus pesadelos a energia sinistra deste ambiente lhe revela uma experiência macabra.
Contatos: marcos.osl@hotmail.com

O ANJO DE PEDRA
Por Marcos T. R. Almeida
Estas ruas de túmulos soberbos, que cidades figuram,
só corruptos cadáveres habitam, poeira, nomes, e ossos descarnados.
Gonsalves Magalhães

Nasci num país pacato, socialmente mesquinho, porém fui contemplado com um temperamento sanguíneo e de forte índole para a investigação. Meu nome é Gustavo Torres, tenho fortes lembranças da minha juventude, apesar de ter sido um emaranhado confuso e tumultuoso, amei muito, mas pouco fui amado. Desta vida agitada e dificultosa aprendi a roubar. Sim! Já fui ladrão confesso! Mas não um ladrão vulgar, que perambula aos milhões por aí, polichinelos como são chamados, pelo estilo roto e capenga que possuem. Roubava, mas com astúcia refinada.
Só tomava tesouros de quem tinha aos montes, jóias, barras de ouro, quadros a óleo, tapeçarias finas, antiquários e peças de arte em geral.
Meu forte porém sempre foi escultura, desde pequeno vivi confinado à desfolhar alguns livros de arte, pertencentes ao meu bisavô, impressionava-me com esculturas de Michelangelo, Benvenuto Cellini, entre outros, por isso a minha especialidade era roubar esculturas de antiquários.
Certa vez passeava pelo cemitério, bastante amargurado por uma desilusão amorosa, observava os túmulos de mármore, ornamentados com fino acabamento artístico, neste devaneio comum à pessoas como eu, deparei-me com um túmulo que chamou-me a atenção, não pelo seu aspecto mas pela escultura de um anjo entalhada na pedra. Imediatamente veio em mim aquele impulso de roubar... Mas contive-me primeiro e refleti...
Não podia ser naquele momento, pois os dois porteiros, que faziam a segurança, já estavam, de olho, sobre meu comportamento. Saí dali absorto, aguardei ansiosamente o anoitecer. Quando o relógio bateu onze e meia da noite, lá estava eu como um vampiro, perambulando pelo cemitério.
Não foi fácil roubar aquele anjo de pedra, e além de tudo, pesava como a cruz de Cristo.
Coloquei-o dentro de um saco e desapareci silenciosamente. Em casa arrumei um canto para aquela peça preciosa, ao lado do meu leito. Passei o resto daquela noite contemplando o anjo...
Nas noites seguintes, comecei a ter pesadelos terríveis, que roubavam-me o sono madrugada adentro, acordava e imediatamente parecia que o anjo de pedra me observava em silêncio.
Certa noite quando eu voltava de um prostíbulo, um tanto embriagado, avistei da rua uma luz dentro da minha casa, e um vulto encapuçado que perambulava por ali. Assustado, vi que o vulto sinistro, pulou a janela de meu quarto e desapareceu...
Quando entrei em casa, notei que havia sido roubado, o anjo de pedra tinha sumido. Mas outras peças valiosíssimas, continuavam em seu devido lugar. Dormi...
No dia seguinte, fui cedo ao cemitério e tal foi o meu espanto, encontrei o anjo de pedra exatamente onde eu o havia roubado.
Mas o mais assustador, foi encontrar a porta de bronze do sepulcro aberta, e lá dentro a tampa do caixão remexida como que se o próprio morto ali repousasse, sem poder ele mesmo travá-la novamente...