Conheça alguns exemplos do cinema de horror produzido em Portugal



(notícia enviada por Luis Costa, de Portugal)

Coisa Ruim (Portugal, 2006) – Direção de Tiago Guedes e Frederico Serra. Roteiro de Rodrigo Guedes de Carvalho. Elenco: Adriano Luz, Manuela Couto, Sara Carinhas, Afonso Pimentel, João Santos, José Pinto.
Uma família citadina herda de um tio-avô uma casa numa aldeia onde o sol não brilha, e ao refugiar-se lá para tentar escapar à deterioração interior de uma família em crise, serão testemunhas de uma série de acontecimentos inexplicáveis, esclarecidos às superstições locais, ao início era tudo fantochada, folclore! Mas haveria sempre alguma coisa que escaparia à lógica, Tiago Guedes e Frederico Serra realizam “Coisa Ruim”, o mais recente sucesso português.
Há algo de tão cativante e estimulante no argumento de Rodrigo Guedes de Carvalho, quer na capacidade de criar, com precisão, uma série de personagens tão realistas e emocionalmente plausíveis, num mosaico familiar completamente anti-telenovela, quer na criação de um objeto narrativo de algo como o cinema português nunca viu, é uma ampla discussão da colisão cidade/campo, na viagem ao sobrenatural de um peculiarmente interessante ângulo, o de uma família forçada ao acreditar num desmoronar de todas as certezas, ao mesmo tempo que enfrenta a desgraça que já dentro delas habitada, um pai que não conhece os filhos, enquanto estes têm segredos incontornáveis, num panorama de uma aldeia fabulosamente representada, em todo o seu preconceito e superstições, tudo brilhantemente aguardando no típico tema da casa assombrada, e é aí que o efeito “Coisa Ruim” começa a ascender. Aqui não há mata! Ou esfola! Não se usa nenhum reconforto vazio, usa-se sim um bem feito terror psicológico, quem viu filmaços que não ficam atrás deste como “Os Outros”, “O Iluminado” ou até “A Vila”, sabe de que falo, é um filme português com ideologias novas e criativas, exatamente isto que o cinema nacional necessitava, um abalo deste tipo de que quem percebe da “coisa”.
Visualmente, “Coisa Ruim” igualmente surpreende, e isso é fabuloso, quem ainda tem o preconceito do cinema português quase caseiro, que descaradamente usa o sexo como único elemento atrativo, certamente se esquivará deste filme, atitude que ninguém que quer voltar a apreciar o cinema nacional com igual qualidade ao que vem de fora deve fazer. Guedes e Serra não mistificam os princípios do sobrenatural, simplesmente os unem a um retrato realista das aldeias de Portugal.
É o primeiro filme de terror a sério português, e que maneira de começar, visto que esta produção abriu várias portas ao mesmo tempo que recebeu todo o reconhecimento merecido (recebeu as honras de abertura do Fantasporto), conta com um elenco de gigantes, Afonso Pimentel, Manuela Couto, Sara Carinhas… todos sobressaem no grande ecrã. Não há melhor maneira de recuperar do desastre “O Crime do Padre Amaro” do que desfrutar dos melhores argumentos que se viam em anos nas salsas portuguesas, conclusão? De um filme tão ambíguo é difícil, mas uma delas… o preconceito vem sempre da ignorância...

Filmes de terror portugueses não são propriamente algo que se encontre regularmente nas salas, antes pelo contrário, por isso “Coisa Ruim”, de Tiago Guedes e Frederico Serra – dupla com experiência na realização de anúncios publicitários, telefilmes e curtas-metragens – é um objeto que suscitava alguma curiosidade, uma vez que é uma das raras experiências nacionais com ligações a esse gênero.
A ação alicerça-se numa família lisboeta que se muda para uma pequena aldeia do interior, passando a habitar um velho casarão herdado pelo pai. Se a maioria do agregado familiar não fica muito entusiasmada com o mais recente lar, exceto a figura paterna, que impulsionou a mudança, a simpatia com o novo local de residência reduz-se ainda mais quando este começa a ser marcado por estranhos e inquietantes acontecimentos. Aos poucos, os três filhos do casal vão tomando contato com intrigantes visões ou com a audição de perturbadores ruídos, situação que afetará, também, os seus progenitores.
Se a premissa da casa assombrada está longe de ser uma novidade enquanto elemento central de um filme de terror, “Coisa Ruim” consegue ultrapassar essa limitação ao assentar num argumento (escrito por Rodrigo Guedes de Carvalho) que não se preocupa somente em catalisar sustos e reviravoltas, mas principalmente em apresentar uma interessante perspectiva acerca dos mistérios, boatos, medos, lendas e costumes presentes nos interstícios de algum Portugal rural.
Questionando sobretudo os conflitos entre a razão e a crença ou a superstição, o filme não descura a esfera emocional das suas personagens, não as usando apenas como meros joguetes mas modelando-as enquanto figuras palpáveis e credíveis, perturbadas por dúvidas e receios bem humanos.
Neste aspecto, a direção de atores é uma óbvia mais-valia, já que o elenco é bastante coeso e empenhado, algo que infelizmente coloca em causa muitas películas nacionais. Manuela Couto, no papel da mãe, oferece uma subtil e envolvente interpretação, e Adriano Luz, que encarna o pai, ou Afonso Pimentel, o filho mais velho, são também exemplo de um profissionalismo merecedor de elogios.
Rigoroso na construção do argumento ou na gestão do elenco, “Coisa Ruim” não o é menos na concepção visual, apostando numa realização fluida e segura, onde os hábeis enquadramentos são fulcrais para que as atmosferas sejam desenhadas de forma tão absorvente. O minucioso trabalho de iluminação ou as texturas da fotografia são outros complementos essenciais, evidenciando um sólido cuidado estético que nunca cai no exibicionismo.
“Coisa Ruim” acaba por não ser tanto uma história de terror mas antes um drama familiar, pontuado por algum suspense e bizarria, em que as personagens se debatem com fantasmas internos e externos. É certo que há por aqui paralelismos com obras de, entre outros, M. Night Shyamalan (nos silêncios carregados de tensão, no ritmo pausado) ou Alejandro Amenábar (notam-se ecos de “Os Outros”), mas o filme encontra um espaço seu ao focar um imaginário tipicamente português, abordado com competência e sentido atmosférico. Pena o óbvio e apressado desenlace, cujo esoterismo exagerado o aproxima mais dos histéricos e pouco imaginativos exemplos de um certo estilo de terror norte-americano do que do desenvolvimento inteligente e sensato – e com espaço para a ambiguidade - que “Coisa Ruim” adota durante a maior parte da sua duração.
Mais informações em http://www.imdb.com/title/tt0489461/

I'll see you in my dreams (Portugal, 2003) – Direção de Miguel Ángel Vivas. Produção e roteiro de Filipe Melo. Elenco: Adelino Tavares, São José Correia, Sofia Aparício, Rui Unas, Manuel João Vieira. Curta-metragem com duração de 20 minutos.
A curta-metragem portuguesa "I'll see you in my dreams" ganhou o Méliès de Ouro no Festival de Cinema Fantástico de Amsterdã. A obra, fruto da persistência do produtor e argumentista Filipe Melo, já tinha sido premiada na edição do Fantasporto deste ano com o Méliès de Prata.
Numa aldeia inexplicavelmente assolada pela praga dos zumbis, Lucio, um honesto trabalhador, é o único capaz de lhes fazer frente. Porém, tem problemas conjugais. Na cave da sua casa, esconde Ana, sua adorada mulher, agora transformada num horrendo demônio de comportamento violento. Esta situação é temporariamente esquecida no bar local, onde os estranhos habitantes da povoação se refugiam. É aqui que, numa noite, Lucio redescobre o amor junto de Nancy, mas a relação é ameaçada pelas estranhas criaturas e pelos ciúmes mortais da sua esposa. Poderá Lucio acabar com todos os seus problemas à força da pistola e da catana?
Mais informações em http://www.imdb.com/title/tt0395171/