Escrito originalmente em 23/04/2009.
“Alta Tensão” (Haute Tension / High Tension, 2003),
“Eles” (Ils / Them, 2006), “A Invasora” (À L´intérieur / Inside, 2007), “Fronteira (A)” (Frontiere (s) / Frontier (s),
2007), e agora “Martyrs” (2008). O cinema de horror francês é atualmente um dos
mais violentos e perturbadores, com filmes tensos, carregados de “gore” em
roteiros que prendem a atenção e principalmente que ficam na memória do
espectador. E também, com algumas exceções, constatamos que o tão badalado e
popular cinema americano de horror não tem conseguido nos dias de hoje deixar
de ser comum, trivial, repleto de clichês e excessivamente comercial, em
detrimento de histórias originais e imagens ousadas de violência gráfica.
É difícil apresentar a sinopse de “Martyrs” sem
esbarrar em armadilhas reveladoras de “spoilers”, portanto a história será
resumida em poucas palavras básicas apenas para registro: Lucie (Mylène
Jampanoi) é uma jovem em busca de vingança contra as pessoas que a aprisionaram
e torturaram quando criança e de quem conseguiu fugir de forma desesperada,
abandonando o cativeiro. Em sua jornada por justiça pessoal, conta com a ajuda
da amiga Anna (Morjana Alaoui), que a apoiou durante anos nos momentos de
depressão e com seu problema de auto mutilação. Porém, tanto Lucie (atormentada
num mundo de insanidade), quanto principalmente Anna, não imaginariam a
horrenda experiência com propósitos obscuros em que seriam vítimas.
Dirigido e escrito por Pascal Laugier, o cineasta
escolhido para comandar a refilmagem de “Hellraiser” (com previsão de
lançamento em 2011), o filme é ultra violento (a cena de vingança com o
tiroteio é memorável), sangrento ao extremo (o líquido vermelho banha a tela em
demasia), e explora um tema original (depois de ver o filme o espectador
refletirá sobre o real significado de “mártir”), através de elementos
interessantes que nos remetem a outros filmes como o americano “O Albergue”
(Hostel), de Eli Roth, na idéia de uma sociedade secreta com objetivos
sinistros, e as películas orientais com fantasmas atormentados, nas cenas de
alucinação de uma das personagens. E ainda temos um desfecho adequado, tão
perturbador quanto toda a bizarra história que é apresentada. É interessante
também notar como os cineastas franceses procuram colocar mulheres como
protagonistas (reparem nos filmes citados no início desse texto), fazendo-as
sofrer na carne dores e torturas inimagináveis, transformando-as em mártires
literalmente. Altamente recomendável, “Martyrs” é cinema de horror puro, que
merece e deve ser respeitado e reverenciado.
Obs.: Em
05/05/16 estreou nos cinemas brasileiros uma refimagem americana produzida em
2015, com direção dos irmãos Kevin e Michael Goetz, e que recebeu por aqui o
mesmo título original. De uma forma geral é inferior
ao filme francês, mas ainda assim passa a sua mensagem com boas cenas de
violência e um final também perturbador. (por RR)