Ray Harryhausen, o técnico em efeitos especiais mais conhecido pelos
fascinantes trabalhos em stop-motion, faleceu em 07/05/13 aos 92 anos. Abaixo
seguem links para uma notícia na imprensa sobre seu falecimento e um vídeo
compilando cenas de filmes com diversos monstros criados por Harryhausen.
Além
também de um texto escrito por E. R.
Corrêa sobre o mestre, publicado originalmente em meu fanzine impresso “Juvenatrix” número 25, em Maio de 1998,
e que não recebeu atualização, justamente para se manter como um registro
histórico intacto de 15 anos atrás, e para servir como uma homenagem a Ray
Harryhausen, que permanecerá eternamente vivo na memória dos apreciadores do
cinema fantástico.
Segue
também um outro texto de autoria de Cesar
Silva, extraído de seu blog “Mensagens
do Hiperespaço” (postado originalmente em 18/05/13).
As Criaturas do Sr.
Harryhausen
por E. R. Corrêa
É
impossível falar sobre os filmes de monstros das décadas de 1950 a 1980 sem citar o nome
de Ray Harryhausen, pois este grande homem (N.E.: que faleceu em 07/05/13 aos
92 anos) deu vida as mais estranhas e bizarras criaturas. Os monstros e seres
fantásticos criados por Harryhausen povoaram os filmes de horror e ficção
científica de uma dedicada geração de fãs, pois pelo menos no auge de sua
carreira, a popularidade de suas criaturas era grande. No entanto, muito pouco
se comenta dele e de sua criação hoje em dia, devido ao fato, talvez, da
esmagadora sequência de filmes envolvendo efeitos especiais de última geração.
Porém, entre os próprios criadores de efeitos especiais, Harryhausen é
continuamente citado como o eterno mestre no seu estilo, estilo esse conhecido
como Stop-Motion.
Só
não é citado como o pai da técnica por haver, antes dele, um outro gênio que
também usou dos recursos do Stop Motion para animar diversos filmes, o genial
Willis O’Brien, responsável pelos efeitos do filme King Kong (EUA, 1933). Porém, a popularidade de Harryhausen superou
a de O’Brien, talvez pelo fato dele ter se aperfeiçoado mais e numa época em
que o cinema de horror e ficção científica estava em alta.
O
Stop-Motion é uma antiga técnica cinematográfica que basicamente é a filmagem
quadro-a-quadro de bonecos ou objetos inanimados para a simulação de constante
movimento. E até hoje esta primitiva técnica vem fascinando os cinéfilos (pelo
menos a mim!). Mas como já disse, é um recurso primitivo e praticamente
extinto, não sendo mais usado (ou muito pouco usado) pelos responsáveis em
efeitos especiais.
Aos
13 anos de idade, Harryhausen assistiu a primeira versão de King Kong, dirigida por Merian C. Cooper
e Ernest B. Shoedsack, e ficou fascinado pelo efeito stop-motion. As animações
de O’Brien para o macaco gigante já eram bastante sofisticadas, combinando,
inclusive, com outro efeito cinematográfico, o Rear Projection, que
consistia em projetar, atrás de uma cena animada, um boneco de Kong, que
aparecia de forma gigantesca contracenando com atores reais. Efeitos tão
antigos como o próprio cinema.
Esses
efeitos, considerados moderníssimos na época, foram responsáveis pela projeção
de Harryhausen no mundo cinematográfico, pois o jovem garoto dedicou-se, daí em
diante, a esse tipo de efeito e criou em sua própria casa, um pequeno zoológico
de criaturas e monstros de toda espécie. E não se contentou com isso apenas -
resolveu, também, criar seus próprios filmes com a ajuda dos materiais que
tinha em casa e uma pequena câmera de 16 mm. E essas mesmas criaturas, mais tarde em
1938, serviriam para fazer suas tentativas iniciais no cinema profissional.
Foi
apadrinhado por, nada mais nada menos, Willis O’Brien, o mestre dos efeitos
especiais, mas teve que começar a trabalhar para outro mestre do cinema de
ficção científica, George Pal, e nos documentários de guerra de Frank Capra (o
mais importante produtor da década de 30, inclusive ganhador de 3 Oscars).
A
estréia oficial de Harryhausen como animador foi no longa metragem Mighty Joe Young, lançado em 1949
(dirigido por Ernest B. Shoedsack, o mesmo de King Kong). O filme demorou três anos para ser produzido e
Harryhausen trabalhou em parceria com O’Brien, mas o mérito recaiu sobre ele,
pela quase totalidade de suas sequências de animação, que combinavam todos os
efeitos desenvolvidos pelo seu mestre, como a Rear Projection e o Matte
Painting (cenários pintados em vidro e compostos com imagens reais).
Seu
filme seguinte, O Monstro do Mar (The
Beast from Twenty Thousand Fathoms, 1953) foi mais expressivo e marcante do que
o anterior, mesmo tendo sido realizado com um terço do orçamento em comparação
com o Mighty Joe Young. Isto deveu-se
ao fato do novo refinamento das sequências, que combinavam ação real e
animação. Novamente foram usados os efeitos Rear
Projection para colocar um gigantesco réptil andando sobre pessoas e carros
e aterrorizando a cidade de New York.
Com
tantos efeitos de primeira categoria, o filme só poderia se tornar num sucesso
imediato. E foi o que se sucedeu.
Logo
os produtores se interessaram pela genialidade de Harryhausen. O primeiro deles
foi Charles Schnneer, que produziu o filme O
Monstro do Mar Revolto (It Came from Beneath the Sea, 1955). Desta vez
Harryhausen coloca uma gigantesca lula destruindo o Golden Gate de San
Francisco e levando pânico à população.
Para
o filme de Irwin Allen, The Animal World (1956),
Harryhausen elaborou diversos dinossauros e reproduziu a vida desses animais de
forma surpreendente. Um filme raro.
Para
Fred Sears, Harryhausen criou uma aterrorizante invasão de alienígenas em
Washington, em A Invasão dos Discos Voadores (Earth Versus the
Flying Saucers, 1956), fazendo com que suas maquetes de discos voadores
projetassem sombras artificiais num chão real, em proporção realista. Uma rara
jóia da ficção científica que poucos conhecem.
Outro
pequeno clássico da ficção científica é o filme Vinte Milhões de Milhas da Terra
(Twenty Million Miles to Earth, 1957), onde um pavoroso monstro, o
Ymir, vem diretamente do planeta Vênus e após fugir ao controle, acaba
escapando e tornando-se um gigante que leva pânico e medo à população romana.
Finalmente
em 1958, Harryhausen poderia mostrar sua genialidade em filmes a cores, e sua
estréia “colorida” foi com A Sétima
Viagem de Simbad (The Seventh Voyage of Simbad), um filme de grande
popularidade na época, inclusive levando o nome de Harryhausen pela primeira
vez nos cartazes de cinema. Neste filme, Schnneer se junta novamente ao mestre
para produzir cenas antológicas, iniciando um ciclo de filmes que relembravam
os fatos curiosos e interessantes da mitologia clássica. Uma cena inesquecível
(eu tinha oito anos quando assisti!) é quando um cíclope e um dragão se
confrontam num combate brutal, numa belíssima praia. Um filme de fantasia
obrigatório para quem gosta de mitologia greco-romana.
Após
este filme, cresceu em Harryhausen a vontade de explorar novos temas, abordar
assuntos mais fantasiosos, como podemos notar nos filmes As Aventuras de Gulliver (The Three Worlds of Gulliver, 1960),
baseado na obra de Johann Swift, e A Ilha
Misteriosa (Mysterious Island, 1961), baseado na obra de Julio Verne,
filmes dirigidos por Jack Sher e Cy Endfield respectivamente.
No
entanto, foram apenas um preparativo para uma das mais impressionantes
adaptações no cinema de fantasia-aventura, Jasão
e o Velo de Ouro (Jason and the Argonauts, 1963), no qual ele finalmente
pode explorar sua antiga paixão pela mitologia clássica. Como não poderia
deixar de ser, desfilam neste filme as mais impressionantes cenas de animação e
aventura, como o antológico combate entre Jasão e um grupo de esqueletos, que
impressionaram pela realidade dos movimentos.
A
cada novo filme, Harryhausen se aperfeiçoava mais em sua técnica dando-nos,
inclusive, uma sequência arrasadora de filmes de aventura. Filmes que são
considerados as definitivas obras-primas da “fase de ouro” do mestre.
Os Primeiros Homens na Lua (First Men in
the Moon, 1964), Mil Séculos Antes de
Cristo (One Million Years B. C., 1966), Valley
of Gwangi (1969), são filmes antológicos.
No
auge de sua carreira como animador, Harryhausen, novamente com Schnneer, cria
seus três melhores filmes: A Viagem de
Ouro de Simbad (The Golden Voyage of Simbad, 1973), Simbad e o Olho do Tigre (Simbad and the Eye of the Tiger, 1977) e A Fúria de Titãs (Clash of the Titans,
1981). Estes dois filmes envolvendo o Capitão Simbad, foram duas sequências
tardias do filme A Sétima Viagem de
Simbad. Já A Fúria de Titãs foi
seu projeto mais caro, isto por causa do elenco de atores ilustres. Mas a
animação não fica devendo; eu, pessoalmente, considero como sua obra-prima, foi
um dos filmes que mais me impressionou. Diversas criaturas desfilam ao longo da
história; talvez a mais impressionante seja a Medusa (monstro mitológico
grego, metade mulher, metade animal com serpentes em lugar de cabelos e que
transformava em pedra quem a encarasse). O terrível monstro marinho, Kraken,
também é apavorante. No entanto, o que atrai a simpatia dos telespectadores
neste filme é uma pequena coruja de metal, que auxilia o herói Perseu em suas
arriscadas aventuras.
É,
sem dúvida nenhuma, o maior clássico da fantasia que o cinema já fez. Um filme
que deve ser visto, revisto, gravado e guardado a sete chaves na sua videoteca.
Com
esta obra-prima do cinema, Harryhausen fecha com chave de ouro sua brilhante
carreira como animador. No entanto, sua influência permanecerá para sempre,
pelo menos na memória dos seus verdadeiros fãs.
Os
filmes Dragonslayer e O Império Contra-Ataca (1980) demonstram
influências diretas com o velho mestre, tendo, inclusive, uma técnica variada
de animação que se originou do stop-motion, que, apesar de ser mais
sofisticado, não deixa de apresentar características com o antigo método.
Harryhausen
se dedicava totalmente ao seu trabalho, no entanto ganhou apenas um Oscar (o
qual teve que dividir com O'Brien em seu primeiro filme em 1949). Hoje, porém,
seu trabalho é pouco comentado. Seus filmes são raros e seu nome aparece apenas
como obrigação em documentários de TV. Mas na memória dos fãs, suas animações e
sua obra em geral serão sinônimos de emoção. Eu nem sabia escrever ainda e já
me maravilhava com as criaturas de Harryhausen, por isso hoje eu estimo muito
sua obra e o mínimo que eu posso fazer por ela está feito.
Ray Harryhausen (1920-2013) por Cesar Silva
Neste mês de
maio, o mundo perdeu Ray Harryhausen, um dos mais importantes técnicos do
cinema de ficção fantástica.
Nascido em Los Angeles, em 29 de
junho de 1920, Harryhousen ficou fascinado pelo mundo do cinema aos treze anos
de idade, ao ver o clássico King Kong (1933). Os impressionantes efeitos
especiais executados por Willis O’Brien, que davam vida ao gorila gigante a
partir de uma miniatura animada pelo processo do stop-motion, levaram o jovem
Ray a dedicar toda a sua vida ao desenvolvimento dessa arte, que cria a ilusão
de movimento a partir da fotografia, quadro a quadro, de miniaturas
articuladas.
Harrihausen
começou fazendo seus próprios filmes em sua casa, com uma câmera de 16 mm.
Começou a
trabalhar profissionalmente em documentários de Frank Capra e nos filmes de
George Pal, mas sua grande chance veio quando fez a animação para o filme
Mighty Joe Young (1949), de Ernest B. Shoedsack, o mesmo diretor de King Kong,
trabalhando ao lado de seu ídolo, Willis O’Brien. Ali ele também ajudou a
desenvolver outros efeitos especiais que dominariam a indústria do cinema por
muitas décadas, como o rear projection (montagens a partir de projeções) e o
matte painting (pinturas realistas em vidro).
Harryhausen
também fez os efeitos de vários filmes clássicos, como os dinossauros de The
animal world (1956), o Kraken de It came from beneath the sea (1955), o
Rhedosaurus de The beast from twenty thousand fathoms (1953), a invasão
alienígena de Earth versus the flying saucers (1956) e o impressionante monstro
Ymir, de Twenty million miles to Earth (1957). Contudo, Harryhousen costuma ser
mais lembrado pelos efeitos que realizou na série de filmes de Simbad o marujo,
personagem inspirado nas histórias de As mil e uma noites, com uma pletora de
monstros mitológicos, tais como o pássaro Roca, o Grifo e o Ciclope.
Seu momento
culminante certamente está nos efeitos especiais realizados para o clássico Jason
and the argonauts (1963), com a Hydra, as harpias, os guerreiros-esqueleto e
outras visões aterrorizantes dos mitos clássicos. O mais recente trabalho do
mestre a impressionar os espectadores foi a primeira versão de Clash of the
titans (1981), no qual a técnica do stop-motion atingiu uma qualidade nunca
vista anteriormente.
Apesar de sua
importância e influência, Harryhausen ganhou apenas um Oscar, justamente por
seu primeiro trabalho, Mighty Joe Young, dividido com O'Brien. Em 1992, a Academia reconheceu
sua obra com um Oscar honorário e, em 2005, Harryhausen foi incluido no Science
Fiction Hall of Fame.
Harryhausen
morreu no dia 7 de maio de 2013, aos 92 anos.