(dica de Marcello Simão Branco)
Novo volume será lançado pela Não Editora. Com organização do escritor Samir Machado de Machado, reúne contos de 20 autores.
Após o sucesso do volume 1, lançado em julho de 2007, o projeto
Ficção de Polpa retorna maior (em número de páginas e autores) e ultrapassa fronteiras (com autores de outras regiões do Brasil e de Portugal), mas ainda buscando representar o universo do terror, da ficção científica e do fantástico. Vinte autores aceitaram o novo desafio do organizador Samir Machado de Machado. Dessa forma, robôs, alienígenas, fantasmas e seres imaginários ganharam vida e mostram a força que a literatura tem para escritores e leitores. Eles estão de volta!
O primeiro volume do Ficção de Polpa, que reuniu 16 autores, pendeu mais para o horror. No Volume 2, que possui 176 páginas e tem apresentação de Daniel Pelizzari, os contos abordam mais a ficção científica, embora a edição tenha uma mistura dos três estilos (ficção científica, terror e fantástico). Robôs em crise de consciência, astronautas e alienígenas solitários, armadilhas do sobrenatural,
experiências científicas malsucedidas, um golem descontrolado e um detetive do imaginário são alguns dos temas.
Participaram do volume 1 e retornam no volume 2 os escritores Annie Piagetti Müller, Antônio Xerxenesky, Guilherme Smee, Luciana Thomé, Marcelo Juchem Rafael Bán Jacobsen, Rafael Kasper, Rafael Spinelli, Rodrigo Rosp, Samir Machado de Machado e Silvio Pilau. E fazem sua estréia no projeto Bernardo Moraes, Carlos Orsi, Frederico Cabral, João P. Kowacs Castro, Juarez Guedes Cruz, Kelvin K., Leonardo Siviotti, Pena Cabreira e Yves Robert (Portugal).
O Ficção de Polpa foi inspirado nas revistas Pulp, ou Pulp Fictions, que foram publicadas entre as décadas de 1920 e 1950. O objetivo é dar continuidade ao projeto de incentivar a produção de uma literatura do gênero que, homenageando suas origens, se compromete em ser entretenimento do mais alto nível.
Seguindo a edição anterior, a antologia traz dois destaques. O primeiro é uma faixa-bônus, com a publicação de Uma Odisséia Marciana, de Stanley G. Weinbaum, história há muito tempo sumida das prateleiras. O conto, com tradução feita especialmente para o livro, é um dos mais importantes da história da ficção científica por ser o primeiro texto literário a retratar um alienígena inteligente, que não fosse um monstro de olhos esbugalhados ou um "humano de outro planeta". Além disso, o livro contém os estudos para a arte da capa, com ilustração de Gisele Oliveira.
A Não Editora foi criada em outubro de 2007. Uma das palavras mais fortes da língua portuguesa, o "Não" também é uma das mais pronunciadas e ouvidas no mercado editorial. É para esse "Não" que a Não Editora diz não: para tudo o que é convencional, comum, repetido e pré-estabelecido. A Não Editora tem como ideal assumir riscos junto com seus autores, sem interferir ou tentar enquadrá-los. Apenas apostando no que é diferenciado. Seu Conselho Editorial é formado pelos escritores Antônio Xerxenesky, Guilherme Smee, Rafael Spinelli, Rodrigo Rosp e Samir Machado de Machado. A editora planeja vários lançamentos para 2008, entre eles livros de novos autores e ainda o terceiro volume da antologia Ficção de Polpa. O site da Não Editora é
www.naoeditora.com.br.
O Ficção de Polpa – Volume 2 estará à venda nas principais livraria de Porto Alegre, como Livraria Cultura, Livrarias Porto, Livraria Londres, Palmarinca, Palavraria, Letras & Cia, Nova Roma, Livrarias Roma e Bamboletras, entre outras.
Preço: R$ 20,00 o exemplar
INTRODUÇÃO DA ANTOLOGIA – ORG. SAMIR MACHADO DE MACHADO
A melhor forma de intimidar um escritor, aparentemente, é pedir-lhe que escreva uma história de ficção científica. Há um certo mito em torno do gênero, de que os bons textos são quase como revelações epifânicas de seus autores e alguém sempre irá citar clássicos como 1984 e Admirável mundo novo. Ao ser desafiado a criar um conto de ficção científica, fantasia ou horror, que é a proposta da coleção Ficção de polpa, os escritores parecem se sentir obrigados a abraçar suas pretensões autorais por inteiro, ou descartá-las por completo em nome do escapismo – e não há necessidade nem de um, nem do outro. O objetivo aqui sempre foi reunir pequenas histórias autorais, em um gênero específico – a ficção especulativa – que, acima de tudo, se oferecessem como entretenimento de qualidade. Textos que, quando vistos isoladamente, se mantivessem de pé por seus méritos independentemente de qualquer gênero ou rótulo que lhes fosse aplicado.
Em primeiro lugar, é bom explicar que não só de alienígenas, astronautas e robôs em crise de consciência se faz esta coletânea. No segundo volume, privilegiamos um pouco mais a ficção científica para buscar um equilíbrio: no primeiro volume, a balança pendeu para o horror e, no terceiro, penderá para o fantástico. O interessante é que, se no primeiro livro foi privilegiada uma intensa visceralidade, esta edição traz um clima quase melancólico, no qual, de um modo ou de outro, a relação do personagem com o ambiente em que vive, os espaços, o isolamento e uma certa melancolia, dão o tom.
A ficção científica não é um gênero recente: ela começa, segundo alguns, com o Frankenstein de Mary Shelley, ou antes ainda, na lenda judaica do Golem, a história primordial da ferramenta do homem voltando-se contra ele, precursora do conflito homem versus máquina que caracteriza o gênero (e não é por menos que trazemos, aqui, uma nova leitura para a lenda). Com a revolução industrial, vieram Júlio Verne e H. G. Wells, criando as bases de um gênero que se definiu nas primeiras décadas do século XX através das revistas mensais de "literatura barata", as pulp fictions (cujo nome vem do fato de serem impressas em papel barato, feito com a polpa da madeira). Foi na revista Amazing stories que seu editor, Hugo Gernsback, cunhou o termo scientifiction (mais tarde, simplificado para science fiction mesmo). É verdade que muito do que foi publicado nessas revistas só poderia ser apreciado hoje sob uma estética camp, mas também foram graças a elas que autores então desconhecidos, como Isaac Asimov, Ray Bradbury e Arthur C. Clarke, encontraram espaço para se popularizarem.
De certa forma, esse também é um dos objetivos dessa coleção: fazer com que, através de temas populares, leitores se aproximem de
uma nova geração de escritores integrada, a partir deste volume, por autores de todo o Brasil e de Portugal.
As histórias que você irá encontrar nas próximas páginas buscam, sobretudo, ser boas histórias, sem se sujeitar a um (ou mais) gênero – essa palavrinha cuja definição, como disse o escritor americano Michael Chabon, todo mundo tem na ponta da língua, mas duas pessoas não conseguem entrar em acordo sobre seu significado. Um bom texto transcende rótulos; quando os sentimentos dos personagens são verdadeiros, não importa de qual planeta ele vem ou se seu coração é de metal: importa, isso sim, que ele se conecte com você, leitor, de forma a parecer que foi escrito especialmente para isso, sob medida para a sua compreensão. Como todo bom texto deve ser.
Samir Machado de MachadoOrganizador das antologias Ficção de Polpa – Volumes 1 e 2