Marcello Simão Branco, co-editor do “Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica”, comenta o filme de FC “Filhos da Esperança” (2006)


Estive Sábado 09/12/06 no cinema para conferir a nova produção de ficção científica inglesa, “Filhos da Esperança” (Children of Men). Baseado no romance da escritora P.D. James (publicado em 2002), a história mostra a Inglaterra em 2027, quando há 18 anos não nasce um novo ser humano na Terra. Não fica claro porque, mas a Ilha é um dos únicos redutos em que restou ao menos um arremedo de civilização. Por isso para lá partem - de forma clandestina - milhares de refugiados. Descobertos, são presos em verdadeiros campos de concentração. Grupos terroristas ingleses lutam pelos refugiados, gerando atentados violentos pelo país. O foco centra-se na figura do ator Clive Owen, um ex-ativista que se desapegou de qualquer causa, depois da morte do filho, um pouco antes da praga que deixou todos estéreis.
Até onde pude notar, o motivo da praga não é explicado, ou pelo menos não de uma forma contundente. O clima é de desesperança e niilismo, com as pessoas não vendo muito sentido em viver para alguma espécie de futuro. Pois ele não existe. O fio de esperança renasce com o nascimento de um bebê de uma refugiada. Temendo pela sorte da criança, o personagem de Owen e o grupo terrorista - cada um à sua maneira - procuram protegê-la e enviá-la para uma outra ilha, onde ela poderia ser criada.
Há várias cenas fortes de conflito entre o Exército e os terroristas. Somando-se isso ao realismo da presença dos refugiados, fica a impressão que o que deveria ser secundário (ou complementar) é, no mínimo, tão importante quanto a questão central: o fim da reprodução humana. É possível ver nisso uma espécie de analogia com os tempos conturbados que vivemos, depois do 11 de Setembro de 2001. Mas que, com o passar do tempo, corre o risco de deixar o filme datado e meio fora de foco.
É interessante comparar com o romance de Brian Aldiss, “Jornada de Esperança” (Greybeard, de 1963). Aqui, a história mostra um estágio bem mais sombrio, já com a população quase em um estágio final de existência. Ou seja, só há os idosos. E, claro, a civilização inglesa, ou qualquer outra como nós conhecemos já faz parte de um passado que virou quase que uma lenda.
No conjunto, “Filhos da Esperança” é um filme importante e que deve ser conhecido. Tanto por seu conteúdo sociopolítico, como dos possíveis efeitos de um fato tão catastrófico, como seria se a humanidade não pudesse mais procriar.
Por fim, é oportuno salientar que este é, pelo menos, o terceiro filme notável de FC produzido no Reino Unido, nesta primeira metade da primeira década do século 21. Junta-se ao instigante e provocador “Extermínio” (28 Days Later), de 2002 e ao impactante e criativo “Código 46” (Code 46), de 2003. Portanto, é possível dizer que há uma tendência renovadora e criativa, com filmes inteligentes e adultos de FC, sendo produzidos no Reino Unido.

(resenha por Marcelo Simão Branco)